sexta-feira, 11 de julho de 2014

A beneficência na visão Maçônica
(publicado pelo Irm.´. Gilvane Ferreira Garcia)

A Maçonaria é considerada como uma organização filantrópica porque não visa a obtenção de lucro, ao contrário, suas arrecadações e seus recursos se destinam à beneficência e à busca do bem-estar do gênero humano.
No Tronco de Beneficência, ato litúrgico obrigatório nas Sessões Maçônicas, são arrecadados óbolos para fins caritativos. Originalmente ele foi criado na Igreja Católica pelo Papa Inocêncio III como uma caixa nas entradas das igrejas cujo valor era destinado aos pobres.
Nas antigas “guildas” era costume recolher contribuições dos que podiam ofertá-las, para socorrer os congregados, às viúvas, órfãos, inválidos e servia até para defesa judicial dos membros. Essa tradição passou à Maçonaria. Essa ajuda era praticada principalmente entre os seus membros, pois muitos deles morriam jovens deixando desamparados viúvas e filhos. Apenas no inicio do séc. XX, a Maçonaria brasileira começou a competir com as Igrejas em matéria de caridade a Profanos.
Apesar da Maçonaria ser uma entidade filantrópica, não se considera que ela exista apenas por causa da Solidariedade e da Beneficência. Ao contrário, a solidariedade e a beneficência é que são consequências do aperfeiçoamento do maçom, que “foi criado para as boas obras”, numa visão possivelmente herdada do protestantismo. O socorro aos necessitados faz parte dos juramentos e compromissos de todo maçom.
Em outras palavras, a maçonaria considera a beneficência como uma das principais virtudes que o homem deve praticar, mas a beneficência não constitui a principal finalidade da Maçonaria, sendo apenas consequência natural das doutrinas que ensina. O objetivo principal de uma Loja Maçônica consiste no aprimoramento moral e intelectual de seus Obreiros, em busca de realização da "Grande Obra", que é a transformação de pessoas comuns em pessoas espiritualizadas, com um estado superior de consciência e sentimentos nobres. Há muitos séculos os Maçons se reúnem não com a finalidade de exercer a caridade, mas para procurar a verdadeira luz. Para isso, a Ordem busca de um lado facilitar a procura da Verdade e, do outro, ensinar o duro e penoso trabalho do desbaste da Pedra Bruta.
Embora a Maçonaria americana compartilhe deste objetivo de aperfeiçoamento dos seus membros, que é a tónica da Maçonaria mundial, ela dá grande importância à filantropia, considerando-a como polo essencial da sua atividade, diferente da Maçonaria continental europeia, que considera a filantropia importante, mas não com o nível de essencialidade dado pela Maçonaria dos EUA.
Essa vertente filantrópica predomina de tal forma na Maçonaria americana que ela, apesar de contar com muitos membros ilustres, não tem se preocupado em exercer influência relevante nas esferas de poder político daquele pais. Historicamente, a sua atividade filantrópica foi sustentada pelo grande fluxo de novos elementos ocorridos até a década de 1960, quando se chegou a 4 milhões de maçons naquele pais, levando a outra caraterística distinta da Maçonaria americana, que é a existência de várias Lojas com centenas e até milhares de membros, mas com poucos efetivamente ativos.
Após aquela década, houve progressivamente uma grande redução na quantidade de maçons, acompanhando a mudança global do comportamento da sociedade de menor tendência a filiações em entidades associativas, chegando atualmente a cerca de 1,5 milhões de maçons. Isto tem gerado a necessidade de fomentar o aumento da quantidade de iniciações de novos membros e de assegurar suas rápidas progressões em novos graus, como forma de continuar financiando a atividade filantrópica.
Na Inglaterra a filantropia também tem uma grande importância, mas, diferentemente dos EUA, as principais contribuições são feitas por uns poucos irmãos muito abastados.
Alguns críticos apontaram que existiu em algumas épocas, particularmente nos países católicos, uma dedicação a obras de caridade aparentemente com o objetivo de ganhar simpatia para, através disso, implementar os objetivos de propagação e a aplicação dos princípios sociais maçônicos. Este método foi abertamente rejeitado pela Maçonaria dos países latinos e por muitos Conselhos Supremos do Rito Escocês Antigo e Aceito. Este método foi também repudiado pelas maçonarias germânicas, britânicas e americana. A desconfiança que hoje existe em relação à atuação da Maçonaria se deve ao fato de ao longo do tempo ela ter defendido princípios humanistas que serviram de base para alguns movimentos revolucionários. Realmente, a Maçonaria sempre pretendeu ser uma associação benéfica e progressista, e, por isso, em alguns momentos, participou ativamente de movimentos nacionalistas, como exemplo no Brasil, a independência e a proclamação da República.