quarta-feira, 10 de abril de 2013

História da Franco-Maçonaria e do Rito Francês



História da Franco-Maçonaria e do Rito Francês


Ir.'. Ibrahim, M.'.I.'.

Or.'. de Pelotas, 9 de abril de 2013 E.'.V.'.


Ninguém sabe com certeza quando e como a Maçonaria foi formada. O mais antigo documento que faz referência aos maçons é o manuscrito de Regius, impresso ao redor de 1390. Existe algum consenso entre os estudiosos que ela surgiu a partir das guildas de pedreiros da Idade Média que construíram as grandes catedrais e castelos medievais. Essas guildas ou corporações tinham por objetivo defender os interesses econômicos e profissionais dos trabalhadores que dela faziam parte. Essas organizações estabeleciam tratados em comum, embora suas diferenças profissionais e geográficas.

Esses trabalhadores organizavam-se em “lojas” (em inglês “lodge”, que significa “cabana”) que eram espaços onde podiam fazer suas reuniões. Evidências históricas sugerem que estas oficinas antigas possuíam algum tipo de ritualística, mas não existem documentos históricos que descrevam esses rituais. Alguns autores acreditam que os graus iniciais da Maçonaria (Aprendiz, Companheiro e Mestre) sejam herdados das guildas medievais. Sabe-se que as origens do grau de Companheiro remontam a algum momento antes de 1730, com a Compagnonage ou Companheirismo na França e em menor escala na Bélgica.

Segundo os estudiosos, as guildas operativas passaram, em algum momento, a aceitar a admissão de membros não operativos ou especulativos, que acabaram desenvolvendo os ideais morais e espirituais que caracterizam a Ordem, transformando-a em uma fraternidade liberal, iniciática e simbólica. Esses novos membros ficaram conhecidos como “maçons aceitos”. Este fato marca a passagem da Maçonaria Operativa para a fase Especulativa. Em 1717, quatro lojas em Londres formaram a primeira Grande Loja da Inglaterra, evento que marca o surgimento da Franco-Maçonaria moderna (Associação de Pedreiros Livres). Pouco tempo depois, a Igreja condena a Maçonaria, iniciando a perseguição aos maçons, muitos dos quais foram torturados e queimados nas fogueiras da Inquisição, o que exigiu que a Maçonaria passasse a atuar em segredo.

Em 1751 surge uma Grande Loja rival em Londres, originalmente formada por maçons irlandeses que afirmavam que a Grande Loja original havia feito inovações inaceitáveis na Maçonaria. Eles chamaram a primeira Grande Loja de “os modernos” e chamaram a si próprios de “os antigos”. As duas Grandes Lojas existiram concomitantemente por 63 anos, sem jamais reconhecerem-se mutuamente. Finalmente, após quatro anos de negociações, as duas Grandes Lojas da Inglaterra uniram-se em 1813 formando a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Ao longo dos anos que se seguiram à fundação da primeira Grande Loja da Inglaterra, em 1717, a Maçonaria tornou-se popular e espalhou-se pela Europa e Estados Unidos da América, com a fundação de diversas lojas. No Brasil, a Maçonaria teve início com a chegada de estrangeiros, assim como com os brasileiros que retornavam de seus estudos na Europa, principalmente nas universidades de Coimbra e Montpellier. Segundo alguns autores maçônicos relatam, em 1797 surgiu na Bahia a Loja denominada “Cavaleiros da Luz”. A primeira oficina regular reconhecida pela Grande Loja da Inglaterra foi a Loja “Reunião”, fundada em 1801 no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, a primeira Loja denomina-se “Filantropia e Liberdade”, fundada em 1831. Em Pelotas, a Maçonaria teve início em 1843, com a fundação da Loja “Protetora da Orfandade”.

A Constituição de Anderson, publicada em 1723 sob os auspícios da Grande Loja da Inglaterra, e as landmarks de Albert Mackey, publicadas em 1858 num trabalho intitulado “Foundations of the Masonic Law”, constituem-se em documentos que, se não tem a unanimidade entre os estudiosos da Maçonaria moderna, marcam o estabelecimento e consolidação da Maçonaria Especulativa. A expressão “landmark” é retirada de Provérbios 22:28: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais.” As landmarks são consideradas as mais antigas leis da Ordem, embora não haja evidências históricas para corroborar esta afirmação.

Uma das maiores polêmicas com relação à Constituição de Anderson a às landmarks de Mackey está na proibição da admissão de mulheres na Ordem. Isso está estabelecido no artigo 18º da Constituição de Anderson e na 18ª landmark de Mackey. No entanto, não há evidências da antiguidade das landmarks de Mackey ou das leis expressas na Constituição de Anderson. Além disso, diversos estudiosos afirmam que não havia nenhum preconceito para a admissão de mulheres nas antigas oficinas operativas da Idade Média. O próprio manuscrito de Regius cita as mulheres como sendo membros regulares da Ordem: “And love together as sister and brother In that honest craft to be perfect; And so each one shall teach the other, And love together as sister and brother.”

Muitas Lojas ao longo da história da Maçonaria admitiram mulheres, mas foi a partir de 1893 com a formação da Ordem “Le Droit Human” que as mulheres passaram a ser admitidas de forma regular na Maçonaria. Entre os pioneiros na formulação da Maçonaria Mista estão o Dr. George S. Martin, conselheiro e inspirador da Ordem “Le Droit Human” e sua fundadora Maria S. Deraismes. Nos dias de hoje está havendo um ressurgimento da Maçonaria Mista no Brasil e no mundo.

A Franco-Maçonaria estabelece-se na França em 1725. A mais antiga obediência maçônica no mundo é o Grande Oriente da França, fundado em 1728 e que se caracteriza por ser liberal e adogmático. Foi exatamente a Maçonaria francesa a que mais influência teve na Maçonaria brasileira. A França foi, nos séculos 18 e 19, o principal palco do esoterismo no mundo, com o surgimento de diversas ordens esotéricas, rosacruzes, herméticas e cabalísticas. Obviamente isso impactou profundamente a Maçonaria francesa e os ritos maçônicos.

Os ritos maçônicos são compostos por procedimentos ritualísticos. Eles são métodos para a transmissão dos ensinamentos e para a organização das cerimônias maçônicas. No período de 300 anos da Maçonaria Moderna ocorreu o surgimento de inumeráveis ritos. Podemos citar entre os mais difundidos: Rito Escocês Antigo e Aceito; Rito de York; Rito de Heredon; Rito de Memphis; Rito de Schröder; Rito Adonhiramita; Rito Francês; e Rito Moderno.

No Brasil, o rito mais difundido é o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). Segundo os historiadores, a chamada “Maçonaria Escocesa” surgiu na França em 1742 e em 1804 foi fundada a “Grande Loja Escocesa da França do Rito Antigo e Aceito” com 18 graus. O Rito originalmente chamava-se “Rito Escocês Antigo”, e somente após a aceitação de Londres que ele passou a se auto-denominar “Aceito”. O Rito Escocês Antigo e Aceito é anunciado em 1801, após a criação do primeiro Supremo Conselho em Charleston, nos Estados Unidos da América. Um ano após isso, em 1802, é anunciada a criação do Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspetores Gerais, 33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A Maçonaria francesa foi fundada por emigrantes que, vindos da Inglaterra, traziam um rito influenciado pelos “Modernos”. O Rito Francês surgiu após 1730, de uma forma não organizada, graças ao livro “Maçonaria Dissecada” de Samuel Prichard, e a partir de 1755 começaram os esforços para a elaboração de um rito organizado. O Rito Francês foi finalmente anunciado em Paris no ano de 1761 e proclamado em 1773 pelo Grande Oriente da França. Alguns estudiosos atestam sua semelhança com ritos maçônicos antigos datados de antes de 1717, portanto antes do estabelecimento da Maçonaria moderna e da fundação da Grande Loja da Inglaterra. O Rito Francês compunha-se inicialmente apenas dos primeiros três graus, os graus simbólicos: Aprendiz; Companheiro; e Mestre. No entanto, o grande interesse pelos graus mais elevados, os graus filosóficos, provocou uma proliferação de ritos. Preocupado com esta situação, o Grande Oriente da França buscou uma forma de harmonizar e padronizar as diferentes doutrinas que vicejavam desordenadamente, influenciadas pelos mais variados misticismos e esoterismos, particularmente o rosacruz. Assim, em 1786 surgia o Rito Francês de sete graus. Preocupado com a disseminação das mais variadas práticas ritualísticas, é publicado o “Le Régulateur du Maçon” em 1801, que normatiza o rito.

O Rito Francês consagra os seguintes graus simbólicos e filosóficos:

Graus Simbólicos

1º Grau – Aprendiz

2º Grau – Companheiro

3º Grau – Mestre

Graus Filosóficos

1ª Ordem – 4º Grau – Eleito

2ª Ordem – 5º Grau – Escocês

3ª Ordem – 6º Grau – Cavaleiro do Oriente ou da Espada

4ª Ordem – 7º Grau – Cavaleiro Rosa-Cruz

Existe ainda uma 5ª Ordem, prevista desde 1755, que trata de todos os conhecimentos físicos e metafísicos de outros ritos. No Brasil, o Rito Francês Moderno, adotou essa 5ª Ordem com dois graus, 8º e 9º, de forma a estabelecer uma equivalência com os graus 19 até 33 do REAA.

O Rito Francês caracteriza-se por sua laicidade e pela liberdade de consciência tão presentes na tradição da Maçonaria francesa. Posteriormente, o Rito Francês foi revisado pelo Grande Oriente da França, com o surgimento do Rito Francês Moderno, como uma derivação do Rito Francês tradicional, e consolidado após a Convenção de 1877. Esse Rito, inspirado pelos ideais Iluministas e pelo adogmatismo, eliminou as referências ao G.'.A.'.D.'.U.'., reservando à intimidade de cada um a crença em um Ser Superior.

A Maçonaria tem desenvolvido ao longo de sua história a fraternidade universal, um ênfase no estudo pessoal, auto-aprimoramento e uma melhoria da sociedade por meio de envolvimento em atividades filantrópicas. Ela foi um veiculo que difundiu os ideais do Iluminismo de liberdade, igualdade e fraternidade, defendendo a razão, a dignidade humana e a liberdade individual.